Lamentar ou não? Eis a questão

Questionadores e lamentadores

Desde muito pequenos aprendemos a questionar. Após o nascimento, depois de aprendermos a balbuciar e a falar algumas palavras, entramos numa fase de descobrimento do mundo. Mundo este que, de início, é feito pelos cômodos da casa e com o passar do tempo se expande para fora dos muros desta. Neste período de descobertas, fazemos uso dos questionamentos para descobrir “o quê”, “porquê” e “pra quê” servem as coisas ao nosso redor. De simples lustres ou sofás até eletroeletrônicos, emoções e sentimentos.

Para os adultos, a fase dos questionamentos das crianças é algo divertido, mas por pouco tempo. Por vários fatores, logo perdem a paciência e, o que antes era engraçado, bonitinho, passa a ser chato, cansativo, monótono e desejável de término. Os questionamentos então, que antes auxiliavam no crescimento e amadurecimento, vão sendo deixados de lado para que os pais e cuidadores possam desenvolver suas atividades diárias em suas vidas corridas, de maneira minimamente satisfatória.

Os questionamentos enriquecem com conhecimento e informações acerca do mundo e de nós mesmos. A reflexão que os questionamentos proporcionam traz, além do aprendizado, amadurecimento psicológico. Mas quando deixamos de questionar passamos apenas a reproduzir o conhecimento que recebemos, sem questioná-los sobre sua veracidade, deixamos de produzir nossos próprios valores.

Pensar nas dúvidas que rodeiam nossa existência não é torná-las maiores e mais angustiantes, mas sim descobrir e ampliar o leque de possibilidades para resolvê-las. Do pensamento é que se origina a ação. Portanto, para concretizar um plano, atingir um objetivo, primeiramente estipulado na mente, temos que levá-lo para a concretude, para a ação, exteriorizá-lo. Mas nem sempre é assim.

Ao invés de assumirmos a responsabilidade de nossos problemas e buscar uma solução para eles, nos acostumamos a adiar a resolução, a ‘empurrar com a barriga’, tudo o que nos traz aborrecimento e insatisfação. Ao invés de sentarmos, pensarmos e agirmos pra resolver algo, preferimos sentar, pensar e planejar como será a viagem para a praia no próximo feriado. Tentamos, inutilmente, usar um mecanismo de compensação no qual para uma coisa ruim que tenhamos que resolver, criamos uma coisa boa. A chateação da discussão com a amiga ou namorado vira um par de sapatos novos no shopping. A promoção que não veio vira uma nova viagem ao final do ano. O aborrecimento com os pais se transforma na extravagante quantidade de comida ingerida durante a solitária madrugada acordada.

A ideia é que tudo de ruim se compensa com algo bom. Mas a verdade é que, tudo de bom não extingue nada de ruim. Ou seja, compensam-se os aborrecimentos e as tristezas, mas será necessário encarar a real insatisfação com a amiga, o namorado, com o chefe e com os pais. Enquanto o problema não é solucionado ele permanece e, mesmo embaixo do tapete, continua a crescer.

Insatisfeitos e aborrecidos arrumamos alguém a quem direcionar a responsabilidade pelo insucesso. Temos que encontrar um culpado. Com isso passamos a terceirizar a responsabilidade pelas situações que não deram certo e pelos aborrecimentos, estresse, tristeza que temos. A ‘culpa’ é da amiga egoísta, do namorado grosseiro, do chefe arrogante, dos pais autoritários, do olho gordo, da inveja, da violência, do mundo moderno, da vida corrida, dos compromissos, do destino, do carma! Tudo e todos conspiram para que o errado esteja presente, para que o não venha antes do sim e que nossos sonhos continuem apenas sonhos.

Lamentamos. Lamentamos tudo e a responsabilidade é de todos – menos nossa! Lamentamos a oportunidade perdida, a escolha errada, a promoção que não veio, a insatisfação financeira, o descaso dos governantes, a violência, o fim do relacionamento, a morte, o tempo desperdiçado, o sol, a chuva, os imprevistos. Lamentamos o passado, o presente e o futuro – que sequer sabe quem somos.

Lamentar é se eximir da responsabilidade de sua própria vida. É declarar-se vítima e assumir a condição passiva de sua existência, o que leva a uma condição estática de desenvolvimento. Lamentando não crescemos, não nos desenvolvemos.

Precisamos voltar à condição de questionadores. Precisamos ter em mãos nossa própria existência. Saber o porquê fazemos o que fazemos e o que é que fazemos. Será que nosso trabalho, nossas amizades, nosso namoro, casamento, família nos fazem bem da maneira que estão? Somos felizes? Ou no fundo não temos feito nada, sendo apenas um barco a deriva e sem direção? Insatisfeitos e, quando atingimos o limite, apenas lamentamos?

Não parece, mas a vida que temos é aquela que permitimos e cultivamos. Para modificar nossas insatisfações somos nós quem temos que mudar. Temos que mudar a maneira como encaramos os problemas, buscar maneiras diferentes de pensar e de agir. Deixamos então de buscar por uma única solução ou resposta e passamos a buscar por alternativas para depois analisar e escolher a que melhor se adéqua a nossa necessidade.

Eis onde o processo psicoterapêutico pode auxiliar. Com a ajuda do psicólogo, identificamos como agimos, pensamos, nos comportamos e resolvemos as dificuldades do dia-a-dia, bem como refletimos sobre as possíveis mudanças que podem ocorrer para que estejamos cada vez mais próximos da tão sonhada felicidade.

por Rodrigo Ken N. Cirilo

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